O voo da borboleta
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Kintsukuroi ou Kintsugi é a arte de consertar cerâmica com ouro e, assim, compreender que a peça é mais bela por ter sido quebrada. No Japão, quando um vaso se quebra existem ceramistas que preenchem as rachaduras com ouro. Reza a lenda que um senhor feudal e destemido guerreiro, conhecido como Toyotomi Hiedeyoshi recebeu de presente um precioso vaso de seu antigo líder, Tsutsui Junkei. Então, um certo dia um pajem deixou o importante pote cair por acidente, quebrando-o em cinco partes. Nesta hora todos ficaram mortificados, temendo pelo garoto, uma vez que Hiedeyoshi era conhecido por sua fúria. Assim, um dos convidados conseguiu improvisar um poema com humor, lançando um jogo de palavras que reunia o nome de Tsutsui, a quebra do vaso, com a citação de um verso famoso sobre a passagem do tempo, assim, todos riram ao final e o bom humor foi restaurado na face de Hideyoshi e, com isso, logo após o incidente o vaso quebrado foi restaurado, unindo suas partes com ouro e passou a ser conhecido como Tsutsui Zutsu, em homenagem ao poema. Vislumbramos com essa história que ao invés de diminuir a beleza da peça, houve um ressignificado em relação às suas marcas devido à quebra e, com isso, criou-se um senso de superação e resiliência. Desta forma, o pote tornou-se mais belo por ter sido quebrado. Houve quem ponderasse que a verdadeira vida do pote começou no momento em que caiu e se quebrou. Esta filosofia, Kintsugi, nos mostra a importância de aceitar as imperfeições, as marcas impostas pela vida. A vida é bela, não tenho dúvidas, ela tem seus altos e baixos e com eles as alegrias e adversidades. Mudanças acontecem a todo instante e ninguém está ileso a elas, mas, diante dos imprevistos e imperfeições, dos erros e adversidades, necessitamos aprender a usar o ouro, este pozinho reluzente e mágico que pode significar resiliência, gratidão, autoestima, para que consigamos recuperar e superar nossas cicatrizes, preenchendo com amor nossas rachaduras. Esta técnica Kintsugi, " a carpintaria do ouro" é uma metáfora da importância da resistência e do amor próprio frente às adversidades. As rachaduras fazem parte da nossa história, elas nos transformam para melhor, quando zelamos em preenche-las com amor e cuidado. Quando valorizamos o que rompe em nós, alcançamos serenidade, quando aceitamos como somos, quebrados e novos, imperfeitos e belos, seres em constante evolução. Sou grata pelas minhas cicatrizes, elas são as provas que eu me feri e também me curei. Sou grata pelas rachaduras que a vida trouxe ao meu encontro e por ter a calma e paciência para preencher cada uma com amor-próprio, compreendendo que o novo eu surgiu através do que foi quebrado e ao observar minhas marcas vejo onde estive, o que superei, recordo minha vitória, que é fruto desta rachadura e de seu preenchimento, feito na certeza que a obra de Deus é perfeita. Então, transforme tristeza em alegria, desânimo em fé, pensamentos negativos em otimismo, reclamação em gratidão. Honre suas cicatrizes como símbolo da sua força e não da sua fragilidade. Aceite as mudanças, valorize quem você se tornou. Eu sou grata pelas minhas rachaduras e os preenchimentos que realizei, pois cada pincelada de ouro em uma rachadura que me dispus a preencher com coragem, alegria, resiliência, pensamentos positivos, autoestima e gratidão, moldaram o meu ser e me tornei quem sou agora. Então, lembre-se de agradecer a Deus o presente de existir e a oportunidade de se fortalecer, crescer, transformar-se e ser feliz, aceitando as imperfeições e sem medo de quebrar-se. Se a quebra acontecer, recorde-se que você pode e deve juntar os cacos e se refazer, preenchendo a rachadura com o seu ouro, afinal, como disse Leonard Cohen " existe uma rachadura em todas as coisas. É assim que a luz entra". Permita-se ser luz!!!
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Serendipidade, esta palavrinha um pouco diferente significa ato ou capacidade de descobrir coisas boas por mero acaso, sem previsão, acaso feliz. O termo surgiu da palavra inglesa serendipity, criada pelo romancista inglês Horace Walpole em 1754. Dizem que numa carta destinada ao seu amigo diplomata, Horace Mann, ele contava sobre a impressionante história persa: "Os três príncipes de Serendip", que leu quando ainda era criança. O conto retratava as aventuras de três príncipes da ilha Serendip ( atual Sri Lanka) que viviam fazendo valiosas descobertas de forma inesperada. Em um dos casos da história, o rei de Serendip em seu leito de morte chamou os filhos dizendo que além de lhes dar seu vasto reino, deixaria um grande tesouro enterrado próximo à superfície. Após a morte do pai, os príncipes reuniram todos os homens do reino para cavar e revolver o solo de todo o país e após anos e anos, não encontraram nada, nenhum tesouro. Porém, para a surpresa de todos, as terras do reino tinham sido tão revolvidas, que as colheitas dos anos seguintes se tornaram as maiores de todas da história. Pela capacidade de observação e sagacidade, os príncipes de Serendip conquistaram grandes tesouros sem que especificamente estivessem buscando por eles. A essa capacidade dos príncipes, Walpole deu o nome de serendipy: " Descobertas afortunadas feitas aparentemente por acaso". Quantas vezes buscamos alguma coisa e encontramos outra? No nosso dia somos agraciados com estes acasos, até de forma inconsciente. Já aconteceu com você a experiência de sentir, ver, ou ouvir algo ao acaso e depois esta experiência transformar-se numa oportunidade, inspiração, em algo tangível em sua vida? Foi isso que aconteceu com Percy Spencer, o inventor no forno microondas, que é um objeto fruto do acaso, pura serendipidade. Essa caixinha que revolucionou a cozinha, surgiu de uma observação sagaz de Spencer que na época trabalhava em um conjunto de radares, sendo que em um de seus testes percebeu que a barrinha de chocolate em seu bolso havia derretido. Claro, que muitas pessoas já sabiam que as microondas emitidas por esses equipamentos aqueciam as coisas, mas foi o Spencer que vislumbrou o uso em um equipamento para aquecer de forma rápida os alimentos. Nesta história visualizamos que é preciso estar pronto para ser beneficiado com o acaso e transformar sua observação em algo valioso. Então, é necessário que mantenhamos nossa mente mais aberta, que a gente exercite nossa sagacidade. Não adianta surgir algo à nossa frente se não tivermos a mente aberta para aceitar o novo, mudar de ideia. Onde quero chegar? O câncer apareceu na minha vida ao acaso, eu não o estava esperando, procurando, apesar de sempre tomar os cuidados com a prevenção. Mas, o que eu não esperava fosse que esta experiência me mostrasse bem mais do que uma doença que muitos temem até mesmo pronunciar seu nome. Com o câncer e observando o mundo ao meu redor ressignifiquei esta palavra " câncer", incluindo tudo que me remetia à vida. Então, enxerguei na autoestima e amor-próprio em meio de me sentir bem. Descobri que a gratidão é um poderoso remédio, pois quando mais gratidão eu sentia de coração, mais bençãos eu alcançava. Percebi que pensamentos positivos são válvulas propulsoras incríveis que nos levam ao infinito e além até o alcance de nossos sonhos. Mas, a maior de todas as descobertas, a verdadeira serendipidade foi o trabalho voluntário, a criação do Projeto A Vida é Bela, que surgiu ao observar o que eu havia aprendido na trajetória do tratamento oncológico e levar estes aprendizados para pacientes que enfrentam o tratamento. Então, descobri uma missão que é levar amor e elevar a autoestima aos pacientes que cruzam o meu caminho e apartir desta descoberta, várias ações aconteceram, tanto com mulheres, homens ou crianças, um livro foi lançado ( O Segredo de Valentina), uma Boutique de Perucas Inaugurada e tudo ao acaso de um diagnóstico de câncer. Eu estava preparada para o meu caso feliz, para receber o novo à minha frente com lentes que observam e que focam no lado bom, positivo, estava aberta às descobertas durante a jornada, que aconteceram em razão deste olhar. E você? Quando o acaso chegar será uma serendipidade?